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A Ciência Está Nos Encurralando

O que o novo estudo sobre cavalos e dor revela sobre nós

Estamos chegando ao ponto em que a ciência começa a dissolver as muralhas da conveniência humana.
Por séculos, vivemos guiados por pegadas emocionais, tradições, indústrias, hábitos, orgulho.
Mas à medida que a neurociência, a etologia e a filosofia da consciência se aprofundam, as justificativas culturais começam a derreter como neve ao sol.

O que acontece quando a ciência finalmente olha nos olhos dos animais, e vê a nós mesmos?

O Estudo Que Abala o Alicerce da Equitação

Em 2025, Frauke Musial e Thomas Weiss publicaram o artigo “What if Horses Were Humans?” na revista científica Animals (MDPI).
A proposta é simples, e devastadora:
comparar as pressões exercidas pelas rédeas e embocaduras nos cavalos com os limiares de dor humana medidos por testes laboratoriais.

Os resultados?

  • O rosto humano começa a sentir dor a partir de 232 kPa.

  • As rédeas de equitação variam entre 91 kPa e mais de 4.000 kPa.

  • Em média, as pressões aplicadas seriam consideradas dolorosas, antiéticas e até lesivas se testadas em humanos.

Ou seja: aquilo que chamamos de esporte só é possível porque o cavalo não pode dizer “pare”.

O estudo não tenta “humanizar” o cavalo.
Ele apenas mostra que a fisiologia da dor (nocicepção) é quase idêntica entre mamíferos.
Logo, se um humano sentiria dor sob determinada pressão, não há base científica para supor que o cavalo não sentiria.

A questão deixa de ser emocional e passa a ser matemática, neurológica e ética.
O que a equitação chama de “contato”, a neurociência chama de estímulo nociceptivo intenso.

E o que antes era “tradição” agora aparece, sob o olhar frio dos dados, como inconsistência moral.

A Observação Que Quase Ninguém Percebeu

Um detalhe importante, e pouco comentado, está na escolha dos autores em usar o rosto humano como referência para o cálculo de dor.
Eles explicam que essa escolha é conservadora, o que significa que provavelmente subestima a dor real que o cavalo sente.

Por quê?

Porque a língua e os tecidos orais, onde a embocadura atua, são ainda mais sensíveis que a pele do rosto.
Em outras palavras: os valores do estudo são o melhor cenário possível, e mesmo assim já indicam dor severa.

Esse é o ponto que muda tudo:
o que já parece cruel na teoria é, na prática, pior do que os números mostram.

O Fim das Desculpas

A ciência não é um ataque, é um espelho.

E o reflexo que começa a aparecer não é contra o cavalo, mas contra nossa própria incoerência.

Se aceitarmos que humanos e cavalos compartilham as mesmas estruturas de dor, então a pergunta inevitável é:

“Por que chamamos de esporte aquilo que, em qualquer outra espécie, seria considerado tortura?”

Talvez o próximo salto de consciência não esteja em treinar cavalos, mas em reaprender a escutá-los.
Porque a verdade é que a ciência já ouviu por nós.
E o que ela escuta, agora, é o som do nosso silêncio desconfortável.

 A Era da Coerência

Estamos entrando na era em que o argumento “sempre foi assim” deixa de bastar.
A cultura se curva, a emoção resiste, o ego protesta,
mas a coerência científica avança, paciente, como a aurora depois da neblina.

E talvez, quando o sol da razão tocar o gelo das nossas tradições,
não seja apenas a neve que derrete, mas o velho humano que acreditava ser o centro de tudo.

Artigo: https://www.mdpi.com/2076-2615/15/20/2989?utm_source=researchgate

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